terça-feira, 23 de março de 2010

ARTIGO: Avaliação da instabilidade multidirecional não traumática de ombro em atletas de handebol

Realizei este trabalho em 2008. Os resultados são significativos!


Avaliação da instabilidade multidirecional não traumática de ombro em atletas de handebol


RESUMO
O objetivo desse trabalho foi avaliar a instabilidade multidirecional não traumática do ombro em atletas handebol profissional masculino. A amostra foi composta por 11 atletas da equipe de handebol da cidade de Itapevi, com idade entre 18 e 31 anos. Foram realizados testes especiais para avaliar instabilidade anterior, inferior e posterior de ombro. Amplitude de movimento de rotação interna e externa de ombro foi mensurada com uso de goniômetro. Os resultados mostraram que 72,72% dos atletas apresentam algum tipo de instabilidade de ombro. 58,33% apresentaram instabilidade anterior; 72,72% aumento na amplitude de movimento de rotação externa, e 90,90% dos atletas apresentaram diminuição na rotação interna. Assim, podemos concluir que a instabilidade de ombro, de causa não traumática, se faz presente em atletas profissionais de handebol, devido aos esforços repetitivos na articulação do ombro exigidos pelo gesto esportivo, associado a longo períodos de treino.

INTRODUÇÃO
O ombro é a articulação mais móvel do corpo humano e trabalha com a sincronia de cinco articulações: glenoumeral, acromioclavicular, esternoclavicular, espaço subacromial e escapulotorácica. A articulação glenoumeral é considerada a mais instável, em virtude do pequeno contato das superfícies articulares entre a glenóide e a cabeça do úmero. A mesma é estabilizada dinamicamente pelos músculos do manguito rotador e estaticamente pelo lábio glenoidal e ligamentos glenoumerais superior, médio e inferior e ligamento coracoumeral. É uma articulação comumente lesionada na prática esportiva, geralmente devido ao esforço repetitivo ou trauma local. Os atletas muitas vezes executam gestos esportivos que excedem os padrões de normalidade fisiológica da articulação, acarretando uma série de lesões osteomusculares e ligamentares. Em esportes que priorizam o contato físico, existem os traumas diretos ou indiretos na cintura escapular. (1)
O Handebol é um jogo de contato entre times em que os jogadores driblam, passam e arremessam a bola com suas mãos, tentando fazê-lo quantas vezes possíveis contra o gol adversário. É um esporte que mistura velocidade, potência e resistência, além de apresentar o contato direto entre os jogadores. Isso predispõe o atleta a lesões em todo o corpo, sejam elas por trauma ou lesões por esforço repetitivo (overtraning). (2)
Segundo Franco, o handebol é a segunda modalidade esportiva com maior índice de lesões. A incidência e severidade das lesões estão diretamente ligadas à fatores pessoais (idade, sexo, agilidade, coordenação, flexibilidade, composição muscular, lesões pregressas, técnica, personalidade e equilíbrio emocional); fatores relacionados à modalidade (contato entre jogadores, gesto esportivo, regras, equipamentos) e fatores ambientais (tipo de piso, temperatura) (3).
O arremesso é gesto principal do jogador no ataque e a articulação do ombro é a atuante principal neste movimento (4). O mesmo possui 3 fases: preparo, aceleração e desaceleração. Na fase de preparo temos os seguintes movimentos: 90º de abdução com ação do músculo (m.) deltóide e supra-espinhoso; rotação externa do ombro com ação dos músculos (mm.) infra-espinhoso, redondo menor; adução da escápula com ação dos mm. trapézio e rombóide; flexão de cotovelo com ação do m. bíceps braquial; os mm. grande dorsal, peitoral maior, subescapular serrátil anterior e tríceps braquial agem excentricamente nesta fase. É geralmente nesta fase do arremessoento.comlaçõeculações incipal d que a articulação é mais sobrecarregada (5).
No handebol, os atletas realizam cerca de 48.000 arremessos por temporada, com velocidade média de 130km/h. A energia envolvida nesses movimentos é elevada, afetando e ultrapassando o limite fisiológico do ombro (6). Isso faz com que esses atletas sofram adaptações, tanto de partes moles, quanto da estrutura óssea, tais como: alongamento da cápsula anterior, hipertrofia e encurtamento da cápsula posterior e o aumento da rotação externa (7). Segundo Litchfield, atletas arremessadores podem apresentar diminuição da amplitude de movimento da rotação interna do ombro. Além disso, podem apresentar pequena diminuição da força de rotação externa, discinesia escapular e escápula alada (8).
Berg & Ellison, concluíram em seu estudo que os traumatismos repetitivos são os fatores responsáveis pelas lesões nos tecidos estabilizadores do ombro, gerando as lesões por overuse e, posteriormente, a instabilidade. Isto no caso de nadadores, ginastas, arremessadores e outros atletas que sobrecarregam o membro superior (9).
Devido a estes fatores, são necessários estudos que avaliem a instabilidade de ombro de atletas arremessadores, no caso, atletas da modalidade esportiva handebol.


OBJETIVOS
Avaliar a instabilidade multidirecional não traumática de ombro em atletas de handebol masculino profissional.


OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Avaliar a instabilidade multidirecional de ombro em atletas de handebol masculino profissional, comparando membro dominante (MD) com o membro não dominante (MND), utilizando testes especiais de instabilidade e mensuração da amplitude de movimento (ADM) de rotação interna e externa de ombro.

MATERIAIS E MÉTODOS
Foram avaliados 11 jogadores do time de handebol profissional adulto masculino da cidade de Itapevi-SP.
Um questionário foi aplicado, incluindo itens como nome, sexo, idade, membro dominante, tempo de atividade, posição de jogo, presença ou não de dor no ombro, patologias e cirurgias anteriores de ombro. Foram excluídos da amostra os pacientes que apresentavam patologias ou os que já foram submetidos a cirurgias de ombro.
Foram realizadas medições goniométricas para os movimentos de rotação interna e externa de ombro bilateralmente, utilizando goniômetro da marca Carci para essas medições. Ambas as medições foram realizadas com os pacientes em pé, com o membro superior posicionado em 90º de abdução e em posição neutra de rotações. Partindo dessa posição foram mensurados a rotação interna e externa ativamente.
Testes especiais também foram utilizados para avaliar possíveis instabilidades, primeiramente avaliando-se o lado não dominante do atleta e posteriormente o lado dominante. São eles: teste do sulco, em que o atleta mantém o membro superior ao longo do corpo, o terapeuta aplica uma força de tração longitudinal e observa-se o surgimento de um “sulco” entre a cabeça do úmero e o acrômio, avaliando a instabilidade inferior (10); teste de apreensão inferior, onde com o paciente fica com o braço abduzido a 90º passivamente e o terapeuta aplica uma pressão para baixo na cabeça do úmero, avaliando a instabilidade inferior (10); teste de apreensão anterior, onde produz-se o movimento de abdução, combinado com rotação externa, repetindo portanto, o movimento que provoca luxação, avaliando instabilidade anterior (1); teste gaveta anterior, onde o paciente encontra-se sentado e o terapeuta apóia uma de suas mãos estabilizando a escápula e sua margem superior, enquanto a outra mão força o deslocamento do úmero anteriormente, avaliando instabilidade anterior (11); teste da gaveta posterior, o paciente ficará na mesma posição do teste anterior, porém o terapeuta força um deslocamento posterior (11); teste de apreensão posterior, nesse o paciente encontra-se em pé com o membro avaliado em 90º de abdução, e o terapeuta com uma das mãos apoiadas sobre o ombro estabilizando a escápula e com um de seus dedos exercendo uma pressão no sentido posterior na cabeça do úmero enquanto a outra mão apóia o cotovelo do paciente e promove um deslocamento de adução horizontal do ombro, avaliando assim a instabilidade posterior (11).


RESULTADOS

Foram avaliados 11 atletas, sendo 10 destros (90,90%) e 1 canhoto (9,10%), com média de idade de 21,36 anos e tempo médio de atividade de 7,63 anos. Destes, 2 eram goleiros, 3 meias, 3 pontas, 2 armadores e 1 pivô.
Os resultados obtidos após a aplicação do questionário e avaliação (testes especiais e aferição de ADM) foram:

- 72,72% dos atletas apresentaram aumento e 27,28% apresentaram diminuição da rotação externa do membro dominante;
- 72,72% dos atletas apresentaram ao menos um teste positivo;
- 90,90% apresentaram diminuição de rotação interna e 9,10% não apresentaram alterações;
- 45,45% dos atletas relataram a existência de dor;
- 58,33% dos testes positivos foram relacionados a instabilidade anterior, 25,00% a instabilidade inferior e 16,67% a instabilidade posterior.

DISCUSSÃO
Segundo Flatow o equilíbrio entre os estabilizadores estáticos e dinâmicos confere estabilidade à articulação do ombro. Nos esportes com movimento de arremesso superior, existe um risco de ocorrência de uma variedade de desordens no ombro devido aos movimentos repetitivos e de estresse na articulação glenoumeral. A instabilidade glenoumeral é uma desordem importante a ser considerada (13).
Seil relata que o handebol, por ser um esporte de arremesso, expõe à articulação glenoumeral a sobrecarga, o que resulta em uma alta incidência de lesões de membros superiores, encontradas mais frequentemente em jogadores com mais tempo de atividade e os que mais arremessam (pontas e meias) (14). No presente estudo, pudemos observar que a dor estava presente em 2 dos 3 meias e em 1 dos 3 pontas, enquanto os testes especiais para instabilidade foram positivos em 3 dos 3 meias e em 2 dos 3 pontas.
Além desses jogadores, pudemos observar alteração nos testes especiais e dor nos jogadores de outras posições. Os 2 jogadores armadores referem dor no ombro, porém somente um deles apresentou teste gaveta anterior positivo, além de apreensão inferior e posterior. O jogador pivô não apresentou queixa de dor no ombro, porém apresentou o teste de apreensão posterior positivo. Dos 2 goleiros, nenhum apresenta queixar de dor na articulação e somente 1 apresentou teste de sulco positivo no membro não dominante.
Bigliani et al, compararam o arco de movimento dos ombros dominante e não dominante de 148 atletas de beisebol profissionais. O braço dominante dos atletas arremessadores apresentava aumento da rotação externa com o membro superior a 90º de abdução e diminuição da rotação interna (15). Em nosso estudo, observamos que 72,72% dos atletas apresentavam aumento da rotação externa do membro dominante. Em relação à rotação interna 90,90% apresentaram diminuição na ADM no lado dominante.

CONCLUSÃO
Podemos concluir após esse estudo, que a instabilidade de ombro (em especial a instabilidade anterior), de causa não traumática, se faz presente em atletas de handebol, assim como uma importante alteração nas amplitudes de movimento de rotação interna e externa, devido aos esforços repetitivos exigidos pelo gesto esportivo. Assim, fica clara a necessidade de um trabalho preventivo a esses atletas para que sejam minimizadas ou evitadas possíveis patologias decorrentes de tal instabilidade.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Cohen, M.; Abdalla, R. J.; Lesões nos Esportes: diagnóstico, prevenção e tratamento – Ed Revinter, 2005;

2. Sanches, F.G.; Borin, S.H. – Lesões mais comuns no handebol - htttp://handebolbrasil.net/2007/07/25/, 2004;).

3. Franco F. - Prevenção de lesões no handebol -http://64.233.169.104/search?Q=cache:-zzkoozv:br.geocities.com/emacarneiro/handebol.htm+musculos+do+arremesso+handebolzzkoozv:br.geocities.com/emacarneiro/handebol.htm+musculos+do+arremesso+handebol, 2007;

4. http://www.fisioesporte.com.br/

5. Hamill J., Knutzen K. M. Bases Biomecânicas do Movimento Humano – cap. 5 – pags. 161-165; 1999

6. EJNISMAN B. e Cols - Lesões músculo esqueléticas no ombro do atleta: mecanismo de lesão, diagnóstico e retorno à prática esportiva – Rev. Bras. Ortop – vol. 36 nº10 outubro 2001;

7. Muraqchovsky, J, et al. - Avaliação da retroversão da cabeça do úmero em jogadores de handebol – Acta Ortop Bras, 15 (5): 258-261, 2007;

8. Litchfield, R., Hawkins, R.; Dillman, C. et al. – Rehailitation for the overhead athlete – J.Orthop. sports Phys Ther 18: 432-441, 1993;

9. Berg, E. E., Ellison, A. E. – The inside-out Bankart procedure. Am J Sports Med 18:129-133, 1990;

10. Malone, T.; McPoil T.; Nitz AJ. – Fisioterapia em Ortopedia e Medicina no Esporte. Editora Santos, 1ª Edição em português, São Paulo, 2000. Capítulo 15, paginas 414 e 415.

11. Buckup, K. – Testes Clínicos para Patologias Óssea, Articular e Muscular. Editora Manole, 1ª Edição, São Paulo, 2002. página 91

12. Marques, AP. – Manual de Goniometria. Editora Manole, 1ª Edição, São Paulo, 1997.

13. Flatow E. L., Levine W. N. – The pathophysiology of showder instability. Am J Sports Med 2000; 28 (6):910-17

14. Seil R., Rupp S., Tempelhof S., Kohn D. – Sports injuries in team handball. Am J Sports Med 1991; 19 (2):681-87

15. Bigliani L. U., Cood T. P, Connor P.M., Levine WN – Shoulder motion and laxity in the professional baseball player. Am J Sports Med, 1997; 25 (5):619-13.

Um comentário:

  1. oi Karina , muito bacana o Artigo sobre Handebol . Beijão .
    Danilo Augusto Vaz

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